bafo da piauí: a imprensa e as cópias

11 jun

FERNANDA DIZ: Mais da matéria bafônica da Piauí, que a gente começou a ‘debater’ aqui. Primeiro tem a Glória Kalil falando e logo embaixo o Jum Nakao.

“A moda e a crítica de moda são coisas muito recentes no Brasil. Então, ainda tá todo mundo se organizando, criando uma linguagem, uma compreensão, uma cultura”, disse Glória Kalil. A respeito do silêncio sobre as cópias, ela foi efusiva: “Não há silêncio. Então você não lê as minhas críticas nem as da Erika Palomino (…). Na moda, há maneiras e maneiras de dar o seu recado. Não precisa ser explícito nem sem educação. Eu digo que a coleção é bonita, mas segue os passos da anterior ou que a coleção ‘X’ ‘tem um perfume’ de Prada, por exemplo.”

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O primeiro é Chloé e o segundo é Tessuti. A foto ilustra a “inspiração” e o tema do post: a gente tem amigos que trabalham com a marca carioca e é sem graça mesmo comentar. (montagem do fashion now)

“A imprensa de moda no Brasil é uma bobagem. A descrição de um desfile é feita como se a pessoa estivesse falando com uma amiguinha. Os jornalistas de moda não são diretos, conhecem pouco o métier. Falam bem dos amigos e mal de quem não gostam. O que sai na mídia costuma ser superficial e bobo. (…) Esse tipo de postura gera falsas referências, gera um falso manual de conduta, isso acaba com o país. Como essas críticas costumam ser uma das poucas coisas que o público lê sobre moda, a moda acaba parecendo boba mesmo. Boba, fútil e superficial”, disse Jum Nakao.

FERNANDA DIZ: Não precisa pensar muito pra calcular que os blogs e os veículos de auto-publicação podem ter um papel definitivo nessa história, não? A liberdade e a falta de vínculo são bens super preciosos na hora de descrever uma coleção ou marca. Como o ‘mundinho’ é pequeno mesmo, quase ninguém tem essa liberdade– a não ser que não esteja tão dentro, que esteja meio à margem mas atento, conversando, pesquisando, prestando atenção e… publicando!

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O primeiro é Stella McCartney e o segundo é do Thiago Marcon. De novo: a gente conhece pessoas super próximas dele e não é confortável, de verdade, postar isso aí. (do fashion now, de novo)

FERNANDA DIZ: A gente concorda que a cultura de moda no BR ainda é novinha, mas por isso mesmo devia receber tratamento diferente da imprensa, tipo de mãe pra filho. Se o estilista erra, a imprensa tem que corrigir, né? E publicar fotos dos originais e das cópias, por exemplo, é correção das boas, que pode estimular outra atitude, não? O que a gente acha (e a gente só acha, ninguém aqui tem certeza absoluta de nada!) é que o ‘mundinho’ é tão restrito que todo mundo é amigo de todo mundo e, no fim, todo mundo trabalha pra todo mundo.

BITI DIZ: a questão da isenção da mídia é crucial. E é beeem complicada, tanto aqui no Brasil quanto no exterior. Como a grande receita dos jornais e revistas provém da publicidade –através da venda de anúncios, e não da venda de exemplares– TODO MUNDO tem o rabo preso, em algum grau. Num mercado pequeno como o nosso, então, nem se fala! E na minha opinião, nem os blogs escapam! Porque se você trabalha como freelancer e depende da boa vontade alheia para te contratar, como é que fica? Você pode até criticar, mas tem que ser à la Gloria Kalil, bem “doce”, bem “delicada”. São bem poucas as jornalistas, no mundo, que podem falar, e falam, o que bem entendem.

BITI DIZ: Outra coisa que é bom lembrar: toda crítica é uma obra de ficção. Por mais pertinente que seja, por mais que leve em conta uma série de fatores, informações e fundamentos, a crítica carrega sempre uma visão parcial e pessoal. Como disse Colin McDowell na palestra no IED, “um dos pré-requisitos para exercer a crítica é ter uma cultura de moda MUITO ampla”. Ele disse ainda que já aconteceu do estilista ficar bravo com os comentários feitos por ele, mas depois reconsiderar e até concordar, dizer que ele tinha razão. Então, talvez a chave de tudo seja o DIÁLOGO, não?

FERNANDA DIZ: A Angélica deixou um comentário no Oficina de Estilo em que levanta a bola pra gente postar o próximo texto: ela falou que acha que essa conversa toda vai ficar só no meio do povo da moda mesmo, que o consumidor final não tá nem aí – e a gente vai super falar dessa parte da matéria já amanhã! Que eu também penso como ela e tenho coisas pra comentar sobre…!

OLIVEROS DIZ: De conversa com a Lillian Pacce (GNT Fashion) ela contou uma história bem interessante sobre a questão. No camarim do desfile da Vivienne Westwood, a apresentadora vestia um casaco da Cori, aquele xadrez paetizado marron. Vivienne quase teve um treco porque era o mesmo tecido que ela usara na coleção dela. Era impossível Herchcovitch ter copiado e vice-versa. O que aconteceu? O mesmo tecido lançado na Premiere Vision (importante feira têxtil de Paris) foi comprado por ambas as marcas… Lillian diz que temos que ter muito cuidado ao analisar o que é cópia, o que é uma tendência globalizada, porque o mundo não é mais o mesmo e a rapidez com que lidamos com a informação, podemos ser injustos ou imprecisos em determinadas situações.

OLIVEROS DIZ: De qualquer forma, fiquei impressionado, não exatamente com a cópia, e sim, como as marcas vêm trabalhando as informações dos birôs de estilo. Para a temporada de verão estavam previstas as estampas orgânicas, o vestido grego, os plissados, os vestidos-colunas, amassados, etc etc. Nossa!!! Perceberam a enxurrada deste tema? Como o Rio ainda é um preview, vamos ver o que SPFW (ou Assolan Fashion Week) vai apresentar, não é mesmo???

4 Respostas to “bafo da piauí: a imprensa e as cópias”

  1. Camila 11 de junho de 2007 às 5:09 pm #

    essa parte do”rabo preso” eh bem punk mesmo…

  2. mark 12 de junho de 2007 às 4:25 am #

    “BITI DIZ: Outra coisa que é bom lembrar: toda crítica é uma obra de ficção. Por mais pertinente que seja, por mais que leve em conta uma série de fatores, informações e fundamentos, a crítica carrega sempre uma visão parcial e pessoal.”

    “OLIVEROS DIZ: Lillian diz que temos que ter muito cuidado ao analisar o que é cópia, o que é uma tendência globalizada, porque o mundo não é mais o mesmo e a rapidez com que lidamos com a informação, podemos ser injustos ou imprecisos em determinadas situações.”

    Clap clap clap! Enfim sensatez em meio ao tiroteio de veneno.

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