Em busca da bicha perdida

9 jul

LooksPrada e Dior Homme, ambos verão 2007

LUIGI DIZ: Toda bee já passou alguma vez na sua vida pela a experiência – agradável ou não – de ter um perfil num site de relacionamento gay, tipo gaydar, disponível e afins. Pois é, e quem já passou por lá também já reparou que tem pencas de perfis falando assim: “não afeminando e nem curto”. Andei reparando desde que cheguei aqui, e acho que em São Paulo também é bem assim, mas esteticamente falando, hoje em dia é preciso ter um gaydar apuradíssimo para dizer se um homem é gay ou não.

As bees estão se vestindo praticamente igual aos homens heteros, agindo igual e, as vezes, até fazendo os mesmo programas. O famoso “não afeminado e nem curto” mostra também que os gays estão em busca de atitudes mais “de macho” nos seus parceiros. Ai, me pergunto: Cadê a bichinha poc? Cadê a bee mais feminina? Aquele homem delicado e sensível? Entrou em extinção?

Para quem não sabe, a bee mais afeminada já foi muita admirada e até considerada uma entidade superior em algumas culturas. Na grécia antiga por exemplo, o homem feminino e sensível era tido como o ideal para o relacionamento homem com homem, tão famoso na época. Ela (a bee afeminada) até foi objeto de estudo de Karl Heinrich Ulrich em 1864, resultando numa teoria ultra revolucionária e bem complexa sobre os diversos tipos orientação sexual.

Talvez a bee mais feminina foi desaparecendo devido à repulsa à homossexualidade ou devido à cultura do machão – incentivada principalmente por Hollywood, com atores como Randolph Scott, Tyrone Power, Gary Cooper, Spencer Tracy e Rock Hudson, que cada vez mais escondiam sua sexualidade por trás de personagens super machistas. Aos poucos as atitudes sócio-culturais fizeram com que a bichinha feminina fosse considerada um ser inferior, motivo de gozação ou até ofensas. Tanto que sempre que apareciam no teatro, cinema ou novela, era num papel cômico ou de vilão. Ou talvez uma das conseqüências da liberação sexual foi que a aceitação social fez com que a diferença entre heteros e homos fosse diminuída a um ponto quase que imperceptível.

Porém, há que vem veja um grande “come back” para a bichice. Não, não é só pela interpretação de Johny Deep no papel do pirata Jack Sparrow, em “Piratas do Caribe”, nem pelos constantes cuidados capilares de David Beckham.  Basta olharmos para as últimas coleções masculinas internacionais que já dá para sentir bem essa volta.

Começando no verão 2007, com os micro shorts principalmente da Prada, Raf Simons e Miu Miu e a silhueta ultra slim de Hedi Slimane para Dior Homme. Já no inverno, as mangas soltinhas quase drapeadas também de Slimane para Dior Homme, os leggings da Prada ou da Marni, os ternos coloridos ou estampados da Comme des Garçons, os casacos acinturados da Burberry e nas saias masculinas de Jean Paul Gaultier.

E nesta última temporada não foi diferente. Apesar de imagens menos impactantes, as melhores coleções como Prada, Raf Simons, Lanvin e Fendi, todas falavam – cada um sobre seu ponto de vista – sobre um homem mais delicado e sensível. Vulnerável as brutalidades do mundo de hoje, sem aquele ar machão.

Mas será que isso vai chegar nas ruas? Será que não falta bichice nos heteros para se aventurarem em novas peças, novas proporções e novas silhuetas? Será que as bees não precisam se liberar mais e brincar mais com as roupas? Porque até então parece que há um grande desequilíbrio entra passarela e vida real.

9 Respostas to “Em busca da bicha perdida”

  1. forademoda 9 de julho de 2007 às 4:34 pm #

    Sabe como apareceram as barbies? Na época em que a Aids ainda era conhecida como peste gay, as bees resolveram encarnar um superhomem, bem over, que transmitisse um over padrão de sáude e virilidade. Depois, isso virão um padrão de imagem.

    O que está acontecendo agora, é uma saída dos guetos, Há tempos atrás a grande bandeira homossexual era de aceitação. Nos grandes centros, na mídia isso já foi incorporado, de uma certa maneira.

    Hoje não penso que os gays queiram ser diferentes, querem ser iguais, porque talvez achem que isso vai facilitar a vida social.
    Eu continuo gostando da diversidade e da mistura. Se tiver respeito, nenhum problema.

  2. ematoma 9 de julho de 2007 às 5:46 pm #

    hahahahahahahahahahahahahaha
    Muito bom, Luigi, fazia tempo que eu não tinha a oportunidade de rir e me informar ao mesmo tempo 😀
    bj.

  3. Ale Adoni 9 de julho de 2007 às 7:26 pm #

    Já parou pra pensar que a bee que mimetiza o ht… É um travestismo, só que ao invés de ir para o biótipo feminino, vai para o masculino. Engrossa voz, estufa peito e tudo! Travestismo!

    E concordo, é preciso mais ousadia, experimentação, (sei lá!) das bees na hora de se vestir. Em pensar que um dia foram elas que ditavam o que era moda…

  4. r.filgueira 10 de julho de 2007 às 4:42 am #

    excelente texto

  5. Glauco Sabino 10 de julho de 2007 às 6:37 am #

    As bees precisam se libaerar mais e brincar com as roupas? Concordo Luigi. Mas, quem tem coragem? Gato, fui para o interior esse feriado e fui alvo de comentários beeem maldosos num pão de açucar só pq estava de chapeú! As vezes, quando saio de casa, deixo acessórios “mais fashion” na mochila, para vesti-los só quando chego à região da Paulista. É complicado… Acredito muito naquele discurso de que a moda masculina é única onde ainda pode-se inventar a roda (afinal, dizem que a última invenção na moda feminina foi a mini-saia). Mas, num país bem machista como o Brasil, isso fica dificil. Pode até funcionar na Europa, no Canadá, mas aqui? Daí, eu pergunto: o que nós – jornalistas, estilistas, produtores e tudo mais – podemos fazer para ampliar a tolerância em relação a como nos vestimos?

    Sorry se estiver viajando, é que cada vez que leio esse blog fico filosofo de botequim…rs. De qualquer forma, a discussão é boa. Bjo!

  6. dusinfernus 10 de julho de 2007 às 12:28 pm #

    não vou nem falar que de alguma maneira seu texto e a discussão nos comentários ajudou parte do meu texto para a coluna gay da Folha.
    Agradeço desde já a ajuda.
    estamos todos em busca da bicha perdida!

  7. Sylvain 10 de julho de 2007 às 7:57 pm #

    As bichas se masculinizaram e os héteros se afeminaram. Essa pode ser uma conclusão bem próxima da verdade, ok, mas mais uma vez (como a discussão sobre a moda de rua brasileira no blogview), é tudo uma questão cultural. Por mais que o macho esteja incorporando elementos femininos ao seu guarda-roupa, isso ocorre em um gueto apenas, né? Pelo menos aqui no Brasil. A grande maioria dos homens ainda acha tudo isso “coisa de viado” e não quer nem ouvir falar de usar camisa de tecido transparente ou passar um creminho em volta dos olhos antes e dormir. Na Europa, isso é mais fácil e comum. Acho que já mudou, já evoluiu. Quem sabe poderemos ter essa discussão daqui a 50 anos de novo, pra ver em que pé estamos. Mas é trabalho de formiguinha mesmo. Quanto às bichas, acho que a “masculinização” deve ser mais para facilitar uma integração. Aquele lance de ser gente normal e não alguém que se aponta na rua. Acho que é meio por aí. Ah! E não acho que dê pra usar os desfiles como parâmetro não. As imagens produzidas nas passarelas masculinas sempre foram bem gays. Talvez por isso mesmo elas sejam melhor digeridas nos países com mais tradição em moda, onde essa questão é secundária. Enfim, boa discussão anyway. Bjo.

  8. fashionlab-rio 10 de julho de 2007 às 8:12 pm #

    adorei o texto, parabéns!!

    realmente tem muita bicha querendo se passar por hetero
    …heheh em compensação tem tanto hetero que são umas “bichas loucas”
    mas isso tudo é muito bacana,
    se vestir tem que ser uma brincadeira também,
    se passar por uma coisa que você não é de vez em quando pode ser muito divertido

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